Você já se imaginou vendendo um item que não possui e lucrando? Apesar de parecer um contrassenso, a prática é legítima no mercado financeiro e é utilizada por muitos traders como forma de obter lucros.
Ela se chama short selling, ou, em português, venda a descoberto, e não se trata de algo irregular. De fato, muitos traders utilizam o short selling em momentos de grande volatilidade no mercado, quando acreditam que um ativo vai cair de preço.
Com essa estratégia, os traders podem auferir lucros mesmo que o mercado esteja em crise, e muitos assim fizeram. Mas o short selling também pode ser benéfico para os investidores. Por isso, no texto de hoje, vamos apresentar mais sobre o short selling e essa relação entre traders e holders.
Apostando na queda
Um short selling é o tipo de operação que funciona para apostar na queda de um ativo. Ou seja, o trader que faz essa operação não adquire o seu ativo alvo, mas, sim, faz a venda desse ativo, apostando na queda.
Nesse sentido, imagine uma ação que custa R$ 10,00 e um trader acredita que ela vai cair 20% — ou seja, ele tem o preço alvo de R$ 8,00. Visando lucrar com essa operação, o trader vende 100 ações (R$ 1.000,00) no mercado, e espera (lembrando que o trader não tem essas ações em carteira, mas falaremos disso adiante).
Caso a cotação do papel de fato caia para R$ 8,00, o trader volta para o home broker da bolsa e, desta vez, faz uma compra de 100 ações, “devolvendo” aquelas que ele vendeu no short selling. Como ele vendeu a R$ 1.000,00 e comprou a R$ 800,00, a diferença entre os valores da operação (R$ 200,00) fica como lucro para o trader.
Vivendo de aluguel (de ações)
“Mas como o trader conseguiu vender ações que não tinha, comprá-las e ainda ter lucro?”, você pode se perguntar. A resposta está no outro lado do short selling, que é o investidor de longo prazo.
Ao contrário dos traders, esses investidores geralmente fazem a compra de ativos e não vendem (ou vendem muito pouco). Mas a bolsa permite que esses holders façam uma operação conhecida como aluguel de ações, que também pode ser chamada de BTC (Banco de Títulos).
Um investidor não é obrigado a disponibilizar ações para aluguel; mas se você investe, pode optar por fazer isso. Ao ativar a função de BTC, a própria B3 faz automaticamente o aluguel das suas ações para quem deseja operar via short selling.
É aqui que entra o trader que vende a descoberto: quando ele vende uma ação sem a possuir, o que ele faz é pegar essas ações emprestadas e vendê-las no mercado. Depois que ele conclui a operação e faz a recompra das ações, a B3 devolve o controle dos papéis para o investidor que os alugou.
Remuneração
Durante esse processo, o investidor dono das ações continua com direito a voto e também ao recebimento de dividendos. A única coisa que ele não pode fazer é vender suas ações enquanto elas permanecem alugadas.
Em troca desse “impedimento”, o dono dos papéis recebe uma pequena taxa de aluguel, correspondente a uma porcentagem do valor alugado. De maneira geral, essa porcentagem é muito baixa, mas o aluguel serve como forma de remunerar uma carteira de longo prazo, trazendo essa vantagem ao investidor.
Já pelo lado do trader, a vantagem é poder operar durante momentos de queda do preço sem precisar comprar o ativo. Assim, se ele quer apenas obter o lucro da operação, o short selling permite isso de forma prática e rápida.
Riscos
Claro que uma operação dessa complexidade envolvendo renda variável não está livre de riscos, e o maior ponto de atenção do short selling é a tendência de mercado.
Isso porque o trader está apostando na queda do preço de um ativo, o que faz o short selling ter ganhos limitados. O trader que citamos no início do texto, por exemplo, teria seus ganhos limitados a R$1.000,00 (100% do valor), caso as ações caíssem até zero.
Em contrapartida, se o mercado não se comportar da maneira esperada e o preço do ativo sobe de R$10,00 para R$30,00, o trader que vendeu R$ 1.000,00 em ações agora terá que pagar R$ 3.000,00 para recomprá-las, tendo o triplo do prejuízo.
Por isso, as operações de short selling são mais efetivas em momentos de crise ou de queda na confiança, quando os preços dos ativos enfrentam tendência de queda. Afinal, os ganhos dela são limitados, mas as perdas podem ser ilimitadas e até destrutivas para quem opera durante momentos de alta.